quinta-feira, 30 de abril de 2009

Fonte

Sempre bebi em fontes baldias. Futuros inadequados me guiaram. Ás vezes me solicitaram perdida. Meu coração sempre soube o que pensar. Minha cara aparente foi seguindo as portas abertas. Olhei as putas, os trabalhadores, os executivos. Cheguei a pensar que tudo estava perdido. Me ofereceram alguns muitos de nada coisas, e segui. Recebi tudo vivendo, violento. Não descartei. Por vezes acordei cega com a claridade e despertei com a escuridão. O tempo se colocou na minha frente e vi o balançar do vento. Vários medos me aprisionaram, mas os carinhos sinceros me colocaram no lugar pretendido. Vislumbrei a vida e ela me confirmou a presença. Vastos momentos refugiaram-se nas montanhas das minhas histórias. Me criei na sangrenta inocência. Simples como jamais imaginava.

" Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito melhores. Mas há os que lutam toda a vida: estes são os imprescindíveis" (Bertolt Brecht)

sábado, 25 de abril de 2009

dias pássaros

maria se apaixonou por joão. Os dois namoraram por um tempo. Após o fim, maria estremecia apaixonada. joão mal dormia, sapecava a vizinha da esquina. maria chorava inconsolada.
Muitos anos depois...
Maria acorda, vê o sol na janela e flerta os passarinhos correndo na grama, pega o periódico. e atiça suas saudades . Dias pássaros. O jornal conta: " Banda de João e sua trupe apresenta o show Afeus Saudosos, 19h00 na Muralha"
Maria constrói o dia, para penetrar a noite anunciada. Sozinha chega no Teatro Muralha, senta e espera o show. A banda percorre animadamente o local. Maria olha o rosto. O som chega e a alcança. Maria se encontra na letra, se perde na harmonia. joão não vê maria. Maria comemora a saudosa saudade. Uma pequena moça invade as poltronas, no intervalo, e convence Maria a comprar o cd da banda. Maria convence a pequena um autográfo de todos os integrantes da banda na capa do cd. O Show acaba, minutos depois a pequena chega e entrega o cd. Maria vislumbrada decide não olhar os autográfos. joão avista maria de longe. Maria ignora joão, e vai embora. A rua oferta a noite. Maria encosta num boteco e pede cerveja. O local fervilha. maria bebe todas e ouve a voz de joão. João entra no bar com sua trupe e paraliza maria. Maria esconde o rosto e bebe mais. joão vê Maria e paraliza. Barulhos embalharam os ouvidos. João e Maria se cruzam, falam um pouco e desconversam. A noite corre. Maria saí do bar e firma o andar. João amolece e bebe. maria esquece joão. joão se esquece em maria.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

devaneios

o amor não pede.
o amor é um acaso dele mesmo. acontece.
adormece na pele. acorda no sonho.
o amor desarma, amolece. dura.
o amor jamais nega.
o amor atende. desmente.
do amor sai o licor, o doce de um beijo doce.
o amor cria a leveza. esconde o ciúme.
o amor no dia ama, na noite também.
o amor distancia a dor. não espera. vive.
o amor mal fala. prefere calar. não deseja divulgar.
o amor ama.
a paixão pede urgencia.
a paixão grita, declama, escandaliza.
a paixão dorme pra amanhecer logo.
a paixão não é pra ninguém entender.
da paixão se tira o gozo, a vaidade.
a paixão bebe cachaça. acorda no breu.
a paixão foge de casa. encontra o jardim do éden.
a paixão dói, espera, vive.
a paixão nega o óbvio. mente. não atende.
a paixão se olha no espelho, e se vê.
da paixão nasce o desejo do amor.

a cidade

a cidade me criou escura esta noite
reguei as plantas, a pimenteira ardeu
dos olhos, duas lágrimas de um olho só
o outro olho não sabia sorrir ou possuir a noite
o olho só temia
a escuridão nada esclarecia

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Não me comparem com nenhuma vida.
Não tenho mais nenhuma a não ser esta.
Os casos de sucessos e insucessos pertecem a outros, a mim não
Caibo dentro de mim
Minha cruzada ninguém pode entender
Eu me sobro.

contos da Liberdade

Os contos da Liberdade se dividem em 5 temas: A puta, Loiro do metrô, Temaqueiro, Vendedor de milho, Catadora camaleoa. Vou repasssar trechos no blog pouco a pouco. Vale dizer que as histórias se criaram no meu vai e vem diário pelo bairro japonês na cidade de São Paulo, e se tranformaram dentro do meu olhar imaginário. Introduzo com o começo de A Puta.
A puta
A noite, quando as crianças do cortiço paralisavam suas atividades na Rua do Glicério, Teresa, na casa em frente, tirava as calcinhas do varal, e se preparava para o batente. Andou pela corredor, e encontrou Lia semi-nua encaminhando um barbudo para um dos quartos do casebre. Estava atrasada, e escutou um estúpido grito do patrão, sinalizando que Aparecido estava a caminho para encontra-la. Rápido desarrumou o armário, e encontrou o vestido vermelho, guardados às melhores recordações e esperanças de revivê-las. O espelho refletiu sua tez morena e cansada. Mirou seus pelos pubianos com naturalidade, não dava tempo de repara-los, e se o tivesse não faria, Aparecido não questionava certos detalhes. Calçou o salto plataforma esverdeado e foi ao encontro acertado pelo chefe. Na sala mal iluminada e enfeitada por algumas mulheres pouco trajadas, deu de encontro com um velho sisudo, e mal intencionado, que apalpou um de seus seios, exageradamente dispostos no decote. Ela sorriu e antecipou sua retirada do ambiente. Sentou-se na calçada e esperou Aparecido.

histórias do huguinho

Passeio de domingo a tarde na feira do Bexiga, em SP. Hugo, minha criança de 5 anos, se entendiava com a quantidade sem fim de objetos antigos (pra ele simplesmente objetos). Alguns brinquedos da minha geração lhe chamaram uma discreta atenção. Foi o parquinho rustico que avistamos, entre a velharia disposta a venda, que animou o moleque. No meio disso tudo, Hugo me contou a história de sua concepção:
- Mãe, você é medrosa- Diz Hugo após minha recusa a descer no escorrega-bunda.
- Meu filho. Não sou medrosa. Como posso ser, se deixei você entrar na minha barriga, e depois deixei o médico cortar e tirar você de lá?
- Mãe, eu sei como aconteceu. Meu pai foi na rua dos bebes, na época em que você não podia sair de casa. Ele me escolheu, dentre os vários bebes, me levou pra casa a noite. Você estava dormindo. Ele aproveitou o momento, pra você não perceber e não ficar brava, cortou suas costas e me colocou na sua barriga. Eu me lembro.
Freud explica.
Dando continuidade ao tema, Hugo ampliou sua historia dias depois, antes de dormir, quando conversavamos sobre crianças que moram nas ruas. Ele me explicou que essas crianças vieram do céu, pois eram brinquedos da namorada do Deus, e ela os deixou aqui na terra. Não entramos em detalhes, pois ele dormiu em seguida.

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