sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

seres platônicos

Tava lembrando, aproveitando o trânsito parado da Rebouças, das minhas paixonites na adolescência. Recordei de um momento quando tinha 16 anos, em um ônibus qualquer de Belém, precisamente na Avenida Generalissimo Deodoro (adoro esses detalhes pra rechear cenários), e dei por mim sobre amor platônico. Na época estava apoixanada por um moço, que dizia sentir o mesmo por mim. Ele mal me ligava, sumia do mapa de vez em quando, mas quando me encontrava compensava sua displicência com lindas palavras de encantamento, e toques de arrepiar todos os fios de cabelos. Alguém tinha me dito neste dia sobre amor platônico, e eu comecei a avaliar meu setimento pelo rapaz. Neste momento tive uma vaga idéia do assunto, amor idealizado, não correspondido, um sonho vivido sozinho. Por uma lógica da idade me recusei a aceitar tal definição para o meu caso. De maneira alguma poderia passar pela minha cabeça que o rapaz não sentia o mesmo furacão sentimental que eu.
Hoje eu em outro ônibus, em novas ruas, e passados 14 anos, acho que estava, em parte, equivocada. Talvez todo o sentimento seja platônico, o que sinto pela minha mãe não é o mesmo que ela sente por mim, a amo e ela o mesmo, mas o sentimento é diferente. Dou outros exemplos, um amigo querido, pelo qual você daria vida, onde se completam em muitas coisas, ou quase todas. Um namorado, um marido, o qual você troca escova de dentes, contas, divide cama, cansaços e prazeres, você ama, olha nos olhos, riem , são felizes, querem mudar o mundo juntos, mas o sentimento não pode ser o mesmo, é impossivel. O princípio da diferença individual pode argumentar minha idéia, não somos iguais, como podemos sentir a mesma coisa? Nossas experiências e vivencias diferem, paladar, visão de mundo, livros lidos, escolas, escolhas, nossas vidas inteiras são coisas que só cada um sente, cada corpo, pele, jeito de ser, dores e cores que conseguimos enxergar.
Da minha experiência jovial, posso concluir que o moço não sentia o mesmo que eu, mas sentia algo que eu jamais poderia alcançar, assim como ele a minha paixão. Parece duro, mas não é. É lindo, sentimentos diferentes e unidos na mesma intenção de ser feliz.
Acho que no fundo da minha sobriedade todo amor é platônico, sozinho e idealizado. Não estou dizendo que não somos correspondidos, mas que os arrepios não são os mesmos, de um lado arrepia de uma forma, do outro lado, de diferente maneira. A recíproca nunca pode ser verdadeira, pelo menos não deveria.

Um comentário:

  1. Lindo isso Patrícia!
    Acho que também sou um ser paltônico.
    Adorei...

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